Como atua a Vitamina D no nosso sistema imunitário?
Uma das formas de defesa do organismo é a capacidade de reação imunológica conhecida como inata – um método de defesa incorporado na estrutura genética, desde a conceção, e que é aperfeiçoado ao longo das gerações e por experiências individuais, como fenómeno adaptativo.
A eficiência da imunidade inata é fortemente dependente da vitamina D. Percebeu-se ainda mais esta função imunomoduladora pela presença de recetores para a vitamina (vitamine-D-recetor = VDR) em células de defesa como por ex. os macrófagos. Fazem parte da atividade da imunidade inata as células conhecidas como:
- Macrófagos, que fagocitam (literalmente “ingerem” e destroem) os microrganismos invasores
- As proteínas conhecidas como Sistema Complemento
- Peptídeos antimicrobianos que atuam como defesas naturais do organismo e, tal como os demais recursos da imunidade inata, são indiscriminadamente eficientes em destruir toda a variedade de microrganismos (vírus, bactérias, fungos, protozoários, etc.).
A quantidade dessas substâncias que é produzida, também é dependente de níveis ideais de vitamina D. Esta possui uma potente atividade reguladora sobre o mecanismo de divisão celular, evitando a divisão de células anómalas ou mutadas. Consegue ainda ativar mecanismos de defesa contra agressões autoimunes principalmente com utilização de Linfócitos T reguladores (Treg) ou Linfócitos Natural Killer (NK).
A vitamina D absorvida através do sol e alimentos, precisa ser metabolizada até à sua forma ativa – Vitamina D3. Os processos de metabolização são efetuados através dos sistemas hepático e renal. Torna-se, portanto, essencial a promoção de opções alimentares e de estilo de vida que facilitem as funções destes órgãos, de forma a garantir que a vitamina D é metabolizada e possa funcionar como elemento protetor orgânico.
O que podemos fazer para estimular o nosso sistema imunitário?
A vitamina D não atua sozinha para fortificar o sistema imunitário. Todo o estilo de vida individual influência a capacidade de defesa do organismo, inclusive a absorção e utilização da própria vitamina D. Atuando como um ciclo: a alimentação, a prática de exercício físico e o controlo emocional, são essenciais para a capacidade de defesa imunitária, desintoxicação e fortalecimento hepático e renal – órgãos que vão ajudar na ativação da vitamina D. Consequentemente, esta desempenhará um papel chave no controlo do apetite, nos valores de glicémia, na capacidade músculo-esquelética, na gestão do pensamento e na potenciação e modulação direta da defesa orgânica.
A partir de que idade devemos pensar em otimizar os níveis de Vitamina D?
A vitamina D é particularmente importante desde a conceção de um novo ser! Os ovários e os testículos expressam o Calcitriol – vitamina D ativa, e o VDR, e esse complexo participa na regulação da produção de hormonas esteroides, tais como o estrogénio, a progesterona ou a testosterona. Participam do controlo da foliculogénese, da espermatogénese e, consequentemente, dos processos relacionados à fertilidade.
Após a conceção, a vitamina D desempenha um papel importante no processo de divisão celular por assegurar que a replicação de DNA é feita de forma normal, sendo que cerca de 3% do genoma humano é regulado, direta ou indiretamente, por esta pró-hormona.
A falta de vitamina D na gestação está associada a um aumento do risco de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e parto prematuro. Os fetos de mulheres com défice de vitamina D podem apresentar atraso do crescimento, baixa estatura, convulsões neonatais, maior risco de desenvolvimento de asma e um sistema imunitário menos capaz.
O processo de desenvolvimento do sistema esquelético – formação de cartilagem e ossos – também é dependente da presença de vit. D. Por conseguinte, durante a gravidez e toda a infância a suplementação com vitamina D na forma ativa é uma prática benéfica, desde que devidamente orientada por profissional de saúde. As crianças, por estarem em crescimento, são particularmente suscetíveis ao défice de nutrientes.
Na idade avançada, estamos mais passíveis ao défice de vitamina D devido à diminuição da capacidade de absorção de nutrientes a nível intestinal, à menor exposição solar e a alterações de vários metabolismos. Na presença destas fragilidades a suplementação com vitamina D apresenta benefícios acrescidos.
Assim, revela-se importante a verificação periódica dos níveis de Vitamina D e de outros nutrientes por forma a perceber eventuais debilidades e corrigi-las antes de ocorrer o processo de doença.
Em que consiste a otimização da Vitamina D?
A otimização dos níveis da Vitamina D é conseguida através da avaliação analítica de
Vitamina D- 25(OH) D Total a par da avaliação da Paratormona (PTH) (2ª geração) que permitirá ao profissional de saúde ajustar a prescrição adequada a cada condição química. Esta prescrição médica é feita tendo em consideração toda a história clínica do utente, sendo que poderá ser aconselhada uma toma mensal, semanal ou diária. A suplementação pode apresentar-se na forma líquida ou encapsulada e a sua ingestão deve ser realizada durante uma refeição na presença gorduras, por exemplo aquando de uma refeição principal como o almoço.
O que são níveis ótimos?
Os níveis de vitamina 25 (OH) recomendados pela classe médica oscilam entre os 30-100ng/ml. No entanto, alguns profissionais definiram que 50 ng/ml é o nível ideal para a ativação das várias funções modeladoras e protetoras da vitamina D. Manter esse nível de vitamina D é possível através da toma orientada de suplementação, sob a forma de ergocalciferol ou colecalciferol, e de avaliação através de análises preferencialmente a cada 3 meses.
Porquê a necessidade de otimizar?
A pele tem a capacidade de sintetizar as quantidades suficientes de vitamina D ao organismo, se exposta à luz solar em intensidade e duração apropriadas. Contudo, a exposição e capacidade de síntese estão cada vez mais limitadas, sendo influenciadas por inúmeros fatores, como: a latitude da zona geográfica, estação do ano, hora do dia, superfície corporal exposta ao sol e duração de exposição, uso de cremes com proteção solar, pigmentação da pele, obesidade e a idade.
Em adição, as fontes dietéticas de calciferol são escassas: as principais são os óleos de peixe e os alimentos enriquecidos, disponíveis no mercado de algumas áreas geográficas, particularmente no norte da Europa, fazendo parte de uma política de saúde preventiva.
Assim, surge a necessidade de melhorar a suplementação continuada de vitamina D sobretudo nas faixas etárias que dependem mais deste nutriente.
A situação global deficitária em vit. D tem apresentado uma associação causal com algumas das patologias major humanas, como: infeções, neoplasias, doenças metabólicas e cardiovasculares, o que se traduz, também, num incremento da mortalidade pelo seu défice.
Um grupo de pesquisadores, da Universidade de Cambridge, da Universidade de Oxford, da Escola de Saúde Pública de Harvard e de outras sete instituições, concluiu que reduzidos níveis de vitamina D são responsáveis por quase 13% das mortes nos Estados Unidos por ano. Essa taxa compara-se a 20% das mortes atribuíveis ao tabagismo, 11% à falta de exercício físico e 9% ao consumo de álcool. Na Europa 9,4% de todos os óbitos foram atribuídos à deficiência de vitamina D. A pesquisa definiu a deficiência de vitamina D como sendo uma concentração sanguínea de 25-hidroxivitamina D inferior a 30 ng/mL. Estima-se que 69,5% dos americanos são deficientes em vitamina D. Na Europa, estima-se que 86,4% da população é deficiente de vit. D.
O aumento do surgimento de doenças autoimunes
Devido ao fato das células imunitárias apresentarem o recetor para vit. D, estas têm-se mostrado sensíveis à capacidade autócrina/hormonal benéfica da vitamina D. O efeito da vitamina D no sistema imunológico traduz-se num aumento da imunidade inata associado a uma regulação multifacetada da imunidade adquirida. A sua deficiência está associada à desorientação imunitária que provoca uma autoagressão dos tecidos – Doença Autoimune. A esclerose múltipla, lúpus eritematoso, vitiligo, psoríase, artrite reumatoide, doença inflamatória intestinal e diabetes mellitus insulinodependente são alguns exemplos de doenças autoimunes. A suplementação adequada de vit. D tem ajudado muitos dos que sofrem com estas patologias por reduzir os sintomas e travar as lesões por vezes irreversíveis.
Porque não conseguimos obter os níveis de Vitamina D ideais apenas com a alimentação?
Como fontes naturais mais ricas em vitamina D3 destacam-se os óleos de fígado de peixe sendo o de bacalhau e de atum aqueles que possuem um maior conteúdo neste composto. Podem ser também encontradas quantidades satisfatórias de vitamina D3 em partes comestíveis de peixes que apresentam valores elevados de gordura (sardinha, cavala, atum, etc.), fígado de mamíferos, ovos e produtos lácteos. No caso dos produtos lácteos, e em particular do leite, este apresenta uma variação sazonal em vitamina D. No caso da vitamina D2, as maiores fontes desta forma de vitamina D são os cogumelos que podem apresentar um teor entre 30 a 100 μg de vitamina D2 por 100 g de produto.
Portanto, a partir da dieta também se pode obter vitamina D. No entanto, as quantidades obtidas não conseguem suprimir as necessidades diárias do indivíduo. A maioria dos produtos naturais que possuem vitamina D constituem uma fonte pobre desta substância, contribuindo com menos de 10% para a Dose Diária Recomendadas de vitamina D. Esta porção reduzida ainda precisa de uma transformação enzimática a nível hepático e renal para possibilitar a utilização da vitamina na célula o que dificulta ainda mais a disponibilidade celular. Para garantir a quantidade de vitamina D ativa e para apresentar efeitos benéficos é assim aconselhada a suplementação adequada e orientada.
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