A testosterona é uma hormona amplamente conhecida, sobre a qual ouvimos falar cada vez mais. Trata-se de uma hormona presente nos homens em maiores quantidades, mas existe na mulher e também nela desempenha um papel determinante a nível de saúde e de qualidade de vida.

Esta hormona tem variados efeitos no nosso organismo: aumento da massa muscular, força, energia, entre outros.

Estudos mais recentes apontam para uma relação entre a Testosterona e a COVID-19, algumas questões relevantes se levantam quanto a esta temática.

Ainda acerca da doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, tema em voga e que não se esgota, parece estar relacionada com o surgimento de disfunção erétil.

Através das informações atualmente disponíveis, responderemos a questões como:

    • Qual a influência da Testosterona na Impotência Sexual?
    • Todos podem realizar suplementação com testosterona?
    • Qual a relação da Testosterona com a COVID-19?https://www.clinicadopoder.pt/saude-sexual-masculina/
    • Esta hormona poderá proteger contra a inflamação e outras patologias que “auxiliam” a progressão do SARS-CoV-2?
    • A COVID-19 causa disfunção erétil/impotência sexual?
    • Como é que um vírus que provoca uma síndrome respiratória aguda pode prejudicar a função sexual ou fertilidade?

A testosterona desempenha várias funções no organismo humano, relacionadas com a saúde física, psicológica e social. Apesar de serem amplamente conhecidas as suas funções a nível sexual, não é linear a relação entre as baixas concentrações de testosterona e a impotência. Isto poderá estar relacionado com a multiplicidade de fatores desencadeadores da disfunção erétil.

Sabemos, no entanto, que a testosterona tem um papel importante na prevenção e controlo de patologias crónicas como a diabetes, doenças cardiovasculares, entre outras, que por sua vez estão na origem da impotência. Assim sendo, podemos concluir que apesar de não existir uma correlação direta, existe uma ligação indireta da testosterona sobre a função erétil.

Este facto alerta-nos para a importância da modulação hormonal em indivíduos com disfunção erétil. Apesar de existirem casos em que a impotência é revertida pela suplementação de testosterona, a modulação hormonal só deverá ser aconselhada por um médico especialista após avaliação cuidadosa e criteriosa do caso clínico do homem. Essa avaliação deve considerar o eventual estado inflamatório da próstata, uma vez que a presença de prostatite potencia problemas na produção de testosterona e disfunção erétil.

A COVID-19 é uma “nova patologia” que veio levantar várias questões, nomeadamente da sua gravidade em homens com diferentes níveis hormonais de testosterona. O tempo decorrido desde o início da pandemia não nos permite tirar conclusões com clareza, existindo, todavia, alguns estudos sobre este assunto. É nos homens com baixos níveis de testosterona que a doença é mais gravosa e mortal.

Apesar do tempo decorrido desde o início dos estudos acerca dos efeitos da pandemia e do vírus SARS-CoV-2 ser curto para a ciência, existem já algumas investigações concluídas que encontraram uma relação entre os homens que sofreram de COVID-19 e o surgimento de disfunção erétil. Os mecanismos fisiopatológicos apontados para este problema são: a disfunção e inflamação que a COVID-19 provoca nos vasos sanguíneos, dificultando a crucial circulação peniana durante a ereção; os efeitos psicológicos do confinamento e da ansiedade e stress provocados pela doença; as várias patologias e problemas que a COVID-19 é capaz de provocar no organismo que são, por sua vez, fatores de risco da disfunção erétil.

 

Vamos então aprofundar esta temática.

As informações aqui presentes são muito importantes para compreender melhor a influência que a testosterona pode ter no nosso organismo e os efeitos nefastos da COVID-19 para os quais deverá estar alerta.

 

O papel da testosterona na Disfunção Erétil (DE)

Com o avançar da idade os níveis de testosterona diminuem e a DE aumenta.

As concentrações baixas de testosterona estão presentes em 40% dos homens com mais de 45 anos. A testosterona é conhecida pela sua influência no humor, cognição, energia, saúde óssea, capacidade muscular e composição corporal. Desempenha, também, um papel importante nas disfunções sexuais como: líbido baixa, falta de qualidade erétil, disfunções orgásmicas e ejaculatórias e baixos níveis de atividade sexual.

O mecanismo da ereção depende da testosterona, mas a associação entre os baixos níveis de testosterona e a disfunção erétil é complexa e não está totalmente estabelecida.

Embora estes dois problemas ocorram, muitas vezes, em simultâneo, continuam a ser dois problemas por si só, nem sempre com uma relação de causa-efeito. Cerca de 20% dos homens apresenta, ao mesmo tempo, baixa concentração de testosterona e disfunção erétil. Destes, aproximadamente 40% dos homens que realizam modulação hormonal com testosterona melhoram a sua função erétil.

Que mecanismos poderão estar por detrás desta relação?

A principal causa de DE é a reduzida circulação sanguínea para o pénis. Este problema é comumente causado por condições crónicas como: tensão arterial elevada, dislipidemia, endurecimento das paredes dos vasos sanguíneos e diabetes.

Existe forte evidência de que baixos níveis de testosterona estão relacionados com diversas patologias crónicas como: diabetes tipo 2, obesidade e enfarte do miocárdio. Desta forma, apesar da relação direta entre DE e testosterona não ser totalmente clara, a influência da testosterona em patologias que, por sua vez, são causadoras de impotência, parece justificar a sua relação por via indireta.

Por outro lado, está também bem estabelecida a relação entre os níveis de testosterona e o humor, energia, quantidade de massa muscular e líbido. Estes fatores desempenham, por sua vez, especial importância no estabelecimento de relações sexuais, sendo, mais uma vez, os níveis altos de testosterona o fator de melhoria da função erétil por via indireta.

Quando deve então um homem realizar modulação hormonal com testosterona?

Um homem só beneficiará de um tratamento com modulação hormonal com testosterona se efetivamente os seus níveis estiverem baixos. Assim, antes de qualquer toma, deve ser procurada ajuda de um médico especializado em modulação hormonal e antiaging (antienvelhecimento) que o possa avaliar. O médico deverá solicitar umas análises sanguíneas completas que avaliem as concentrações de várias hormonas e o seu estado de saúde geral.

Além da modulação com testosterona, a adoção de um estilo de vida saudável é fundamental para potenciar a produção endógena de testosterona e simultaneamente reduzir a probabilidade de aparecimento de doenças que afetam a qualidade da ereção.

Prostatite: uma causa comum de baixos níveis de testosterona e disfunção erétil

Trata-se de uma patologia comum da próstata, apresentando-se, frequentemente, sob a forma de prostatite crónica bacteriana. Este problema pode ter inúmeras causas, difíceis de determinar, uma vez que esta doença prostática poderá desenvolver-se ao longo de meses e anos, de forma mais ou menos silenciosa.

A prostatite crónica é uma causa de alterações urinárias, dores na região púbica e perineal e problemas sexuais. De entre esses problemas sexuais está a disfunção erétil, sendo necessário tratar a prostatite para reverter o quadro clínico.

A prostatite tem ainda uma relação direta com as concentrações hormonais de testosterona. Níveis baixos de testosterona favorecem o desenvolvimento de prostatite, que, por sua vez, condiciona a produção testicular de testosterona. Compreendemos assim a importância de diagnosticar e curar a prostatite de forma a garantir níveis adequados de testosterona e uma função erétil satisfatória.

 

A testosterona e a COVID-19

Com o aparecimento desta “nova” doença, muita investigação tem vindo a surgir, em volta daqueles que podem ser os fatores de risco para um portador de COVID-19 desenvolver mais sintomas e ter um pior prognóstico. Apesar dos estudos serem ainda poucos e, por isso, não conclusivos, existem já alguns que procuraram investigar uma eventual relação entre a testosterona e a COVID-19.

Ao longo desta pandemia tem-se concluído que, principalmente, os homens costumam sofrer de formas mais graves da doença. Tendo os homens níveis consideravelmente mais elevados de testosterona do que as mulheres, a hipótese levantada poderia ser a de que não só a testosterona não apresenta uma função protetora, mas que ainda é um fator de risco para desenvolver formas mais graves da COVID-19. Existe uma justificação fisiológica para tal: a testosterona facilita a expressão de uma proteína das membranas celulares, a “transmembrane protease serine 2” que serve de entrada para o SARS-CoV-2 nas células humanas.

Por outro lado, sabe-se que níveis mais baixos de testosterona estão associados a disfunção endotelial (parede interna dos vasos sanguíneos), formação de trombos e resposta imunológica deficiente. Desta forma, os níveis séricos reduzidos de testosterona facilitariam a inflamação e infeção sistémica do SARS-CoV-2.

A obesidade, uma das principais causas de prognóstico grave em doentes infetados, está estritamente associada ao hipogonadismo funcional (baixa produção de testosterona) e pode reforçar consistentemente as alterações acima mencionadas, predispondo, em última análise, a consequências respiratórias e sistémicas graves.

Um estudo conclui que os baixos níveis séricos de testosterona, que deveriam caracterizar o meio hormonal em indivíduos gravemente doentes, podem predispor os homens, especialmente os mais velhos, a um mau prognóstico ou à morte.

 

A COVID-19 pode causar impotência?

Mais de um ano depois do aparecimento da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, estudos continuam a ser realizados de forma a descobrir os efeitos a médio e a longo prazo da doença no organismo humano. Atualmente já dispomos de alguns estudos sobre o efeito da COVID-19 na saúde sexual e reprodutiva masculinas.

As investigações concluídas até ao momento revelam que os sobreviventes da COVID-19 estão associados a problemas como a Disfunção Erétil (DE) ou impotência. Os investigadores apontam 3 fatores que poderão estar na origem desta relação:

1. Efeitos vasculares: A DE é conhecida como sendo um preditor de outras doenças cardiovasculares. O sistema reprodutivo e o cardiovascular estão intimamente ligados. O mecanismo da ereção implica um aumento significativo da circulação sanguínea para o pénis, sendo necessário que todos os vasos sanguíneos penianos se encontrem em perfeitas condições. Sabe-se atualmente que a doença COVID-19 provoca uma inflamação de várias estruturas no organismo humano, incluindo o endotélio, a camada interna dos vasos sanguíneos. Deste modo a circulação peniana poderá ficar diminuída ou bloqueada, facilitando a DE.

2. Efeitos psicológicos: A atividade sexual está intimamente ligada à saúde mental, influenciando-se mutuamente. Sabemos que o contexto da pandemia aumentou os níveis de ansiedade, stress e depressão. Este efeito psicológico nefasto ocorreu quer nos homens que não foram infetados pelo vírus (privação de estabelecer relações sociais e íntimas no confinamento) mas sobretudo naqueles que desenvolveram a doença (medos relativos à sobrevivência e evolução do quadro da patologia).

3. Efeitos na saúde geral: Sabemos que a impotência é um alerta silencioso para outras doenças cardiovasculares, mas também o é para várias outras patologias no organismo. Homens com saúde débil têm maior risco de desenvolver DE e também de desenvolver formas mais graves da COVID-19. No sentido contrário, também homens que tiveram esta doença têm maior probabilidade de desenvolver um número significativo (ainda não totalmente descoberto) de problemas de saúde. Assim, sobreviver à COVID-19 aumenta a probabilidade de um homem vir a desenvolver impotência pela degradação da sua saúde no geral.

A disfunção erétil pode ser um marcador de problemas de saúde de vários sistemas. Em indivíduos, sobretudo jovens, que passaram a sofrer de DE, especialmente após desenvolverem COVID-19, poderá este ser um sinal de que algo mais sério está a ocorrer na sua saúde.

Outra causa de preocupação na comunidade científica tem sido os resultados de investigações que têm encontrado lesões a nível testicular pós-COVID. Ainda não é possível concluir se estas lesões testiculares se mantém a longo-prazo e que implicações podem ter na fertilidade masculina.

Existem atualmente vários estudos que demonstram efeitos nefastos a nível cardiovascular e noutras funções do organismo, que ocorrem depois da doença COVID-19. A investigação atual aponta para complicações possíveis a longo prazo como: trombose venosa, problemas neurológicos, danos no coração, pulmões, rins e mais recentemente na saúde sexual e reprodutiva masculina. Apesar disto, é muito cedo para tirar conclusões de quais são os exatos efeitos desta doença a longo prazo.

Sabemos já, todavia, que existem vários caminhos patológicos através dos quais o SARS-CoV-2 pode causar disfunção erétil, sendo necessárias mais investigações para os compreendermos melhor.

Estes são motivos mais do que suficientes para nos protegermos a nós e aos outros, através das medidas sugeridas pelas autoridades de saúde.

As informações acima explanadas alertam-nos para os cuidados que devemos ter para evitar a contaminação com este vírus e também da atenção que devemos dar aos sinais e sintomas que o nosso corpo nos dá, mesmo depois de ultrapassada a doença. Outra informação importante a reter é o papel que a testosterona tem na nossa saúde global e que, consequentemente, afeta significativamente a saúde sexual.

 

Jean Gonçalves – Fisioterapeuta – Licenciado pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL).

 

Bibliografia:

  1. DerSarkissian C., Low testosterone and ED, WebMD, consultado em https://www.webmd.com/erectile-dysfunction/erectile-dysfunction a 19/4/2021.
  2. Rastrelli G, Corona G, Maggi M. Testosterone and sexual function in men. Maturitas. 2018;112:46-52.
  3. Giagulli VA, Guastamacchia E, Magrone T, et al. Worse progression of COVID-19 in men: Is testosterone a key factor?. Andrology. 2021;9(1):53-64.
  4. Sansone, A., Mollaioli, D., Ciocca, G. et al. Addressing male sexual and reproductive health in the wake of COVID-19 outbreak. J Endocrinol Invest 44, 223–231 (2021).
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