Os cientistas têm apresentando cada vez mais evidências de que o consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, faz mal à saúde. Mas o vinho tinto seria uma exceção, podendo até fazer bem. Será que esta ideia se mantém?

Estudos recentes demonstram que não! O vinho tinto também é álcool, mesmo o de grande qualidade. Obviamente que a dose e o tipo de bebidas são dados relevantes, mas é essencial refletir quanto à frequência de consumo.
Consequentemente essa frequência vai dizer-nos muito a respeito da condição orgânica da pessoa.

O seu consumo é de algumas vezes por ano, 1 vez por mês, 1 a 2 vezes na semana ou de uma ou duas vezes ao dia?

Metabolização do Álcool

O álcool é metabolizado por vários processos. O mais comum desses caminhos envolve duas enzimas – álcool desidrogenase (ADH) e aldeído desidrogenase (ALDH). Essas enzimas ajudam a separar a molécula de álcool, possibilitando a sua eliminação do corpo. Primeiro, a ADH metaboliza o álcool transformando-o em acetaldeído, uma substância altamente tóxica e um carcinogénico conhecido. De seguida, num segundo passo, o acetaldeído é ainda metabolizado para outro subproduto menos ativo chamado acetato, que então é dividido em água e dióxido de carbono para fácil eliminação.

A imagem esquematiza a metabolização do álcool e seus produtos e subprodutos

Metabolização do álcool esquematizada.

O acetaldeído é um subproduto tóxico intermediário que ocorre no início do processo de degradação do etanol. Embora o acetaldeído geralmente esteja no corpo apenas por pouco tempo antes de ser mais fragmentado em acetato, ele tem o potencial de causar danos significativos. Isso é particularmente evidente no fígado, onde a maior parte do metabolismo do álcool ocorre. Algum metabolismo do álcool também ocorre noutros tecidos, incluindo o pâncreas e o cérebro, causando danos às células e tecidos. Além disso, pequenas quantidades de álcool são metabolizadas em acetaldeído no trato gastrointestinal, expondo esses tecidos aos efeitos nocivos deste elemento.

O vinho tinto faz parte da Dieta Mediterrânea, inspirada originalmente nos padrões de alimentação da Grécia, do sul da Itália, da Espanha e Portugal.

Baseada no consumo de alimentos frescos e naturais como azeite, frutas, legumes, cereais, leite e queijo, ela seria a responsável pela longevidade das populações daquelas regiões.

Embora os cientistas concordem que o consumo moderado de vinho tinto pode ajudar a proteger o coração, reduzir o “mau” colesterol e prevenir o entupimento das veias e artérias, há divergências sobre o que estaria por trás desses benefícios.

O vinho tinto é feito com uvas que contêm micronutrientes conhecidos como polifenóis. Eles atuam como antioxidantes e podem proteger o organismo contra algumas doenças e ainda combater o envelhecimento.

Os polifenóis protegem tanto as células quanto outras substâncias químicas naturais do corpo contra os danos causados pelos radicais livres.

Há mais de 8 mil polifenóis identificados em bebidas como chá e vinho e em alimentos como chocolates, frutas, legumes e azeite extra-virgem, entre outros.

Um destes polifenóis é o resveratrol, um dos mais estudados pelos cientistas. Sua existência já era conhecida no começo do século 20, mas foi somente a partir dos anos 1990 que a substância foi descoberta no vinho tinto.

Benefício duvidoso

Saudado durante muitos anos como uma espécie de substância milagrosa, o resveratrol é um composto que, segundo os pesquisadores, poderia retardar o envelhecimento e combater o cancro e a obesidade.

A maioria dos estudos testou o resveratrol em cobaias de laboratório como peixes, camundongos, ratos e até em leveduras.

Até ao momento, os testes em camundongos revelaram resultados animadores, mas ainda não foram encontradas evidências sobre a eficácia em humanos.

Estudos sugerem que até 500 mg por dia de resveratrol podem ser necessários para que existam benefícios para a saúde. O vinho tinto contém no máximo 12,59 mg de resveratrol por litro, para obter 500 mg por dia, seria necessário beber quase 40 litros de vinho diariamente. Uma dose diária de 40 mg de resveratrol também pode ter alguns benefícios, segundo mostrado num estudo publicado no “Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism” em junho de 2010. Mesmo que uma dose diária de 40 mg seja suficiente, ainda assim seria necessário o consumo de um pouco mais de 3 litros de vinho diariamente para obter algum efeito benéfico do resveratrol.

Na maior parte das vezes, os cientistas deram às cobaias grandes concentrações de resveratrol muito maiores do que as contidas em uma taça média de vinho tinto.

Na Universidade de Leicester, na Inglaterra, testes com ratos indicaram que dois copos de vinho por dia podem reduzir a incidência de tumores nos intestinos e os cientistas vêm estudando maneiras de desenvolver o resveratrol como composto isolado, para ser tomado individualmente como um fármaco para prevenir o cancro.

Na verdade, teríamos que beber muitas garrafas de vinho tinto por dia para consumirmos uma dose correspondente a um suplemento de resveratrol.

E claro que, se fizermos isso, qualquer pequeno benefício do resveratrol será anulado pela quantidade de álcool ingerida.
Há quem diga que a fama atribuída ao vinho tinto de ser bom para a saúde se deve, na verdade, ao fato de a bebida fazer parte da Dieta Mediterrânea.

Neste tipo de alimentação, ele é consumido moderadamente, acompanhando uma boa quantidade de alimentos frescos ricos em nutrientes como frutas, vegetais, peixes e nozes.

Possivelmente, a combinação de todos estes elementos é que resulta numa vida mais longa e saudável.
De acordo com o Cancer Research UK, o centro britânico de pesquisas para o cancro, é um erro tomar vinho tinto achando que isso fará bem à saúde.

A instituição lembra que, mesmo em quantidades moderadas, o álcool aumenta o risco de desenvolver um cancro.
Esse hábito pode trazer sérios riscos à saúde. Cientistas descobriram que ingerir uma garrafa de vinho por semana aumenta o risco de cancro na mesma proporção que fumar até 10 cigarros.

 

Consequências na saúde com o consumo de Álcool

A ideia de que “um copo de vinho à refeição é benéfico para a saúde” será uma ratoeira?

O vinho pode causar danos no cérebro!?

Um novo estudo defende que isso acontece mesmo com uma pequena porção de vinho. As notícias não são animadoras para os apreciadores de um bom copo de vinho ou de outra qualquer bebida alcoólica. Investigadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, concluíram que não existe um nível seguro de ingestão de álcool, o que significa que mesmo que consuma poucas quantidades de bebidas alcoólicas pode sofrer danos cerebrais.

Cancro

O consumo de álcool pode contribuir para o risco de desenvolver diferentes tipos de cancros, incluindo cancro do trato respiratório superior, fígado, cólon ou reto e mama. Isso ocorre de várias maneiras, inclusive através dos efeitos tóxicos do acetaldeído.

Muitos consumidores frequentes não desenvolvem cancro e algumas pessoas que bebem apenas moderadamente desenvolvem cancros relacionados ao álcool. Pesquisas sugerem que, assim como alguns genes podem proteger os indivíduos contra o alcoolismo, a genética também pode determinar a vulnerabilidade de um indivíduo aos efeitos cancerígenos do álcool.

Doença Alcoólica do fígado

Como órgão principal responsável pela degradação do álcool, o fígado é particularmente vulnerável aos efeitos do metabolismo do álcool. Mais de 90% das pessoas que bebem frequentemente desenvolvem fígado gordo, um tipo de doença hepática.

Pancreatite Alcoólica

O metabolismo do álcool também ocorre no pâncreas, expondo este órgão a níveis elevados de subprodutos tóxicos, como o já referido acetaldeído. Tem sido descrita a associação entre os fatores ambientais como o tabagismo, a quantidade ingerida, o padrão de hábitos alimentares e de consumo, bem como diferenças genéticas na forma como o álcool é metabolizado, que também contribuem para o desenvolvimento da pancreatite alcoólica.

Função sexual

Apesar do álcool ajudar as pessoas a superar as suas inibições ou ansiedades sexuais, e por isso ser chamado de afrodisíaco, o uso frequente e em excesso de álcool também tem efeitos fisiológicos negativos na função sexual, é uma causa comum de disfunção erétil.

À medida que a quantidade de álcool no sangue aumenta, o álcool diminui a capacidade do cérebro de sentir a estimulação sexual. Como neurodepressor, o álcool afeta diretamente o pénis ao interferir com partes do sistema nervoso que são essenciais para a excitação sexual e o orgasmo, incluindo a respiração, a circulação e a sensibilidade das terminações nervosas.

Relativamente à circulação, o álcool faz com que os vasos sanguíneos dilatem, o que influencia a irrigação sanguínea dentro e fora do pénis. Um bom fluxo sanguíneo regula o relaxamento e a contração do pénis, para que ele possa obter e manter uma ereção. Sem isso, por mais tentativas que se façam, o pénis permanecerá flácido.

Um estudo de 2009 publicado no Journal of Sexual Medicine percebeu claramente que menos volume de líquido no corpo, desidratação e um sistema nervoso deprimido levam a uma luta para desempenho sexual ótimo. Isso ocorre porque o álcool pode desidratar o corpo, diminuindo o volume sanguíneo enquanto aumenta a hormona associada à disfunção erétil, a angiotensina.

Os níveis de testosterona no sangue também diminuem à medida que a quantidade e a frequência de consumo de álcool aumentam, o que consequentemente pode levar a alterações testiculares, alterações hormonais e tecido mamário aumentado em homens, conhecida como ginecomastia, e alterações da massa muscular.

Álcool e Disfunção erétil

Os comportamentos de risco associados à Disfunção Erétil (DE) incluem a obesidade, tabagismo, sedentarismo, má alimentação entre muitos outros. O consumo de bebidas alcoólicas é mais um fator de risco modificável, ou seja, passível de ser interrompido em qualquer fase da vida e com isto trazer benefícios para a saúde.

Estudos laboratoriais demonstram que o alcoolismo crónico dificulta reações que levam ao relaxamento e dilatação dos corpos cavernosos, mecanismo fundamental ao aumento do fluxo sanguíneo no pénis durante a ereção e que é mediado pelo Óxido Nítrico.

O consumo continuado de bebidas alcoólicas prejudica a função a nível micro e macrovascular, sendo desta forma um fator de risco para o aparecimento de qualquer patologia cardiovascular. Através destes efeitos nefastos, nomeadamente a nível do endotélio, (onde se produz o Óxido Nítrico) fica comprometida a função erétil do indivíduo, que se deteriora progressivamente.

Para além dos efeitos na condução nervosa, dificultando a obtenção e a manutenção de uma ereção suficiente para a penetração, o álcool também tem efeitos adversos na líbido e conduz a problemas hormonais, como por exemplo, redução da produção de testosterona e redução no número de espermatozoides.

Apesar de tais alterações serem em parte reversíveis após a abstinência, a disfunção erétil pode persistir, em decorrência de lesões neurológicas. Além disso, o surgimento de complicações como, depressão ou a deterioração no relacionamento conjugal ao longo do tempo, afetam diretamente a função sexual.

Muitos homens com problemas de autoestima ou outros, vêm no álcool a solução para se sentirem mais confiantes e à vontade com o sexo. Porém o álcool atua como um fármaco antidepressivo e ao invés de estimular ou conseguir uma maior iniciativa, pode alterar por completo o humor e a disposição para o sexo.

 

Conclusão

O consumo de bebidas alcoólicas tem diversas consequências negativas no nosso organismo.

O álcool afeta a saúde humana de várias maneiras, como a acumulação de toxinas que afetam adversamente os órgãos e os tecidos do corpo, a ocorrência da intoxicação ou da embriaguez aguda que causa ferimentos ou envenenamento, e desordens do abuso de álcool que podem causar prejuízos sociais, intelectuais e físicos, assim como comportamento do auto-dano e violento para com os outros.

O consumo excessivo de álcool pode acarretar problemas tanto psicológicos quanto físicos, sendo que a disfunção erétil é um deles. Os efeitos tóxicos do álcool a curto e a longo prazo, prejudicam os tecidos do fígado, do cérebro e do sistema nervoso, pelo que os seus efeitos no processo de ereção podem ocorrer mesmo quando se encontra sóbrio.

A investigação não é consensual na definição de uma quantidade de álcool ingerida considerada excessiva e a partir da qual as lesões são mais graves. Contudo, dado os diversos efeitos nefastos no organismo deverá ser algo a evitar.

 

 

Henrique Pedroso – Fisioterapeuta Licenciado em Fisioterapia pelo Centro Universitário Monte Serrat (2007) no Brasil. Veio em 2009 para Portugal, em busca de novos conhecimentos, onde realizou o curso de pós-graduação na Universidade Fernando Pessoa no Porto. Exerceu em diversas clinicas e hospitais, nomeadamente no Hospital e Maternidade Silvério Fontes onde trabalhou na área de Fisioterapia Urológica e Ginecologia/Obstetrícia. Em clínicas e health clubs espalhados pelo país, atuou em diversas áreas da fisioterapia como geriatria, ortopedia/desportiva, reumatologia entre outras. Apaixonado pela profissão está sempre em busca de melhorar a saúde e o bem-estar dos seus pacientes.

 

 

Bibliografia

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