A resposta sexual humana (RSH) depende de três fatores: a biológica, a psicológica e a social, todas elas entrelaçadas entre si. A RSH é uma sucessão altamente racional e ordenada de ocorrências fisiológicas cuja função é preparar os corpos de dois parceiros para a união reprodutora.

Como a Organização Mundial de Saúde define, saúde sexual é a integração dos elementos somáticos, emocionais, intelectuais e sociais do ser sexual, por meios que sejam positivamente enriquecedores e que potencializem a personalidade, a comunicação e o amor.

A vida sexual de pessoas sadias, ou seja, com “saúde sexual”, é coordenada pela inter-relação de três sistemas: o neurológico, o vascular e o endocrinológico. Qualquer alteração em algum destes sistemas pode, potencialmente, gerar descompassos na resposta sexual.

A relação sexual bem-sucedida depende de uma sequência complexa de ocorrências hormonais e fisiológicas altamente vulneráveis aos efeitos de excitações emocionais, tanto intensas quanto crónicas.

Masters & Johnson, em 1970, descreveram o “ciclo de resposta sexual completo”, subdividindo-o em quatro fases:

1) Excitação: duração de minutos a horas. É a estimulação psicológica e/ou fisiológica para o ato. Corresponde à lubrificação vaginal na mulher e à ereção peniana no homem. Carateriza-se basicamente por dois fenómenos: vasocongestão e miotonia, culminando na formação da plataforma orgástica. À medida que a estimulação sexual aumenta, aumenta também a excitação e surgem outras respostas físicas, tais como:

  • aumento progressivo da tensão muscular;
  • aumento do ritmo cardíaco;
  • pressão sanguínea;
  • ereção dos mamilos.

Nas mulheres, a vasocongestão das paredes vaginais na zona genital desencadeada pela excitação sexual é responsável por alterações fisiológicas, como:

  • Lubrificação vaginal – transudado que humedece a parte interna da vagina, necessária para a penetração, assim como para os movimentos do pénis no interior da vagina, a fim de não causarem desconforto ou dor,
  • Os grandes lábios separam-se da sua linha média, elevando-se e tornando-se ligeiramente mais planos, o que permite que a entrada da vagina fique livre,
  • Os pequenos lábios engrossam,
  • O clítoris aumenta de tamanho,
  • O útero é empurrado ligeiramente para cima,
  • Há um entumecimento e um ligeiro aumento do tamanho geral das mamas.

Nos homens para além da ereção peniana, verifica-se:

  • A pele das bolsas escrotais alisa-se,
  • Os testículos começam a elevar-se e aumentar ligeiramente de tamanho,
  • Em níveis elevados de excitação sexual, produz-se um ligeiro aumento da glande e um maior aumento dos testículos.

RESPOSTA SEXUAL HUMANA – imagem @Masters&Johnson Institute

2) Plateau: excitação contínua; prolonga-se de 30 segundos a vários minutos;
3) Orgasmo: É uma descarga de imenso prazer, representada no homem pela ejaculação. É a fase de excitação máxima, com grande vasocongestão e miotonia rítmica da região pélvica, acompanhada de grande sensação de prazer, seguida de relaxamento e involução da resposta (resolução).
4) Resolução: Também chamada fase de detumescência, é um estado subjetivo de bem-estar que se segue ao orgasmo, no qual predomina o relaxamento muscular, a lassidão e certo torpor. Tem duração de minutos a horas. Nos homens, carateriza-se por um período refratário no qual o organismo necessita estar em repouso, não aceitando mais estimulação.

O período refratário é o tempo necessário para o homem conseguir excitar-se novamente e ter nova ereção após o orgasmo. Este tempo é bastante variável e vai se tornando maior com o processo de envelhecimento. Esse período refratário, no homem, pode sofrer influencia de vários fatores. Dentre estes, podemos citar a idade, doenças associadas, período de abstinência sexual, stress, uso de medicações, entre outros. Nas mulheres a resposta pode surgir de formas diferentes onde após o orgasmo entra logo em período de resolução, o platô pode se estender por mais tempo com altos e baixos ou após o primeiro orgasmo, sem entrar em resolução, atingir novamente outro orgasmo ou ter como é conhecido os orgasmos múltiplos.

Quando ocorrem dificuldades numa das fases da resposta sexual, tem-se aquilo que é denominado disfunções sexuais. Segundo Kaplan, são desordens psicossomáticas que tornam impossível para o indivíduo ter coito e/ou gozar de prazer durante o mesmo.

A etiologia das disfunções sexuais é multifatorial (fatores psicossociais e fisiológicos) e pode estar relacionada a:

  • a) causas orgânicas: doenças crónicas (arteriosclerose, doenças neurológicas, diabetes etc.), cancro, gestação e puerpério, agentes farmacológicos e uso de drogas, alterações endocrinológicas, doenças psiquiátricas subclínicas, outros fatores médicos, cirúrgicos ou traumáticos;
  • b) causas psicológicas: fatores individuais (personalidade, baixa autoestima, educação, história de vida, abuso sexual, dificuldades psicossociais, depressão, ansiedade, medo, frustração, culpa, conflitos intrapsíquicos, crenças religiosas), fatores interpessoais (comunicação pobre, relação conflituosa, pouca confiança, traições, medo de intimidade) e fatores psicossexuais (aprendizado e atitudes negativos sobre a sexualidade, ansiedade de desempenho, traumas sexuais, desconhecimento da resposta sexual, expetativas de resposta surreais).

As disfunções sexuais são classificadas em quatro categorias:

  1. Disfunções de desejo (desejo sexual hipoativo, desejo sexual hiperativo e aversão sexual).
  2. Disfunções de excitação (na mulher: alterações relacionadas à excitação e à lubrificação, no homem: disfunção erétil).
  3. Fase de orgasmo (na mulher: anorgasmia; no homem: ejaculação precoce, retardada, retrógrada e ausência de ejaculado).
  4. Disfunções sexuais relacionadas à dor (na mulher: dispareunia e vaginismo, no homem: prostatites, uretrites, fimose, doença de Peyronie, etc.).

As disfunções podem ser primárias (quando ocorrem desde o início da vida sexual) ou secundárias (surgidas após um período de funcionamento sexual normal); transitórias ou permanentes; situacionais (quando ocorrem somente em determinadas situações) ou gerais (quando ocorrem em qualquer situação).

Os conceitos de adequação e inadequação sexual também precisam ser considerados: adequado é aquele casal que, funcional ou disfuncional, está satisfeito com sua interação na relação sexual, e inadequado é aquele que não está.
Por exemplo, uma mulher com vaginismo, cujo parceiro apresenta disfunção erétil, apesar de ambos terem uma disfunção, eles são muito convenientes um ao outro, pois ela não permitiria a penetração, e ele não conseguiria penetrá-la. Se somente um dos dois recebesse tratamento, este casal poderia se tornar inadequado, pois o parceiro que permanecesse disfuncional não suportaria a demanda do outro.

Portanto, perceber o ciclo de resposta sexual humana é de grande importância no tratamento das disfunções sexuais e por consequência o que pode sugerir uma inadequação sexual, pode ser somente uma má perceção dos processos fisiológicos. Muitas vezes o casal ao perceber os gostos de cada um e adequar a relação às suas necessidades podem ser a solução para uma prática sexual satisfatória para ambos.

 

Henrique Pedroso – Fisioterapeuta
Bibliografia
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  6. Lara, Lúcia Alves da Silva. “Sexualidade, saúde sexual e Medicina Sexual: panorama atual.” Revista brasileira de Ginecologia e Obstetricia 31 (2009): 583-585.
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