Os probióticos são cada vez mais falados atualmente, pelos seus efeitos benéficos no intestino e, consequentemente, no trânsito intestinal, absorção de nutrientes, entre outros. O que poucas pessoas têm conhecimento é que os probióticos, que são microrganismos vivos cuja ingestão tem benefícios na saúde humana, desempenham também um papel importante no tratamento e prevenção de infeções do trato urinário e sexual, entre outros.
Nas mulheres, o efeito do tratamento com probióticos em condições como vaginites, candidíase e infeções urinárias está já bem estabelecido através de diversos estudos. Já nos homens existe menos investigação, possivelmente pelo facto do trato urinário masculino ser menos propenso a infeções, pelo menos no estado agudo.
A prostatite é uma doença comum nos homens com implicações variadas na sua saúde: dores, problemas sexuais, problemas urinários, entre outras. O tratamento para a prostatite é pouco conhecido e os antibióticos normalmente fazem parte integrante do tratamento.
O nosso intestino tem uma “flora” microbiana própria (atualmente designada de microbiooma ou microbiota intestinal) e os antibióticos podem ser prejudiciais à mesma. Por outro lado, os probióticos potenciam o desenvolvimento de microrganismos benéficos para o intestino. Os estudos mais recentes comprovam que a utilização de probióticos em conjunto com os antibióticos potencia o tratamento da prostatite, evitando a recorrência de infeções do trato urinário. Mais recentemente um estudo aponta até para a melhoria da sintomatologia da prostatite apenas com a toma de probióticos.
Neste artigo, vamos esclarecer a relação do consumo de probióticos e a prostatite, que é uma patologia comum no homem de qualquer idade e com consequências a nível urinário e sexual.
O que é uma prostatite?
A prostatite crónica ou síndrome da dor pélvica crónica em homens, caracteriza-se pela inflamação da glândula prostática (próstata). Este pequeno órgão, quando inflamado, pode ser o responsável de problemas urinários como urgência urinária, dificuldade em urinar, ardor ou dor ao urinar e gotejamento e problemas sexuais como a disfunção erétil e ejaculação precoce. Também é comum que homens com prostatite sintam dores na zona dos testículos, períneo (entre o ânus e o pénis) e na zona da púbis.
Esta condição pode ser aguda ou crónica, sendo que frequentemente se mantém durante anos assintomática ou com sintomas ligeiros até afetar significativamente a qualidade de vida masculina. Pode surgir em qualquer idade, mas é mais frequente a partir dos 40-50 anos. A probabilidade de desenvolver prostatite é superior em homens que já tiveram esta patologia previamente.
A causa da prostatite nem sempre pode ser determinada. Contudo existem alguns fatores de risco que potenciam a probabilidade de sofrer de prostatite, como a presença ou ocorrência de:
- Anormalidades no trato urinário;
- Infeções sexualmente transmissíveis;
- Hiperplasia benigna da próstata;
- Infeções urinárias de repetição;
- Manipulação instrumental/sondas de vias urinárias;
- Sexo anal ou vaginal desprotegido;
- Maus hábitos alimentares e obesidade;
- Obstipação;
- Stress constante.
O diagnóstico da prostatite tem por base o quadro clínico e o toque retal. Quando este último é doloroso, significa que estamos perante uma prostatite.
O tratamento desta patologia pode envolver várias terapêuticas, que podem incluir: antibiótico, terapia laser de baixa intensidade, massagem prostática e probióticos.
E o que são os probióticos?
A primeira definição foi publicada em 1965, definindo os probióticos como agentes microbiológicos que estimulam o desenvolvimento de outros organismos. A palavra probiótico deriva do grego “pro” = “a favor de” e “biótico” = “vida”, sendo o seu significado etimológico “aquilo que é a favor da vida“. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e a Organização Mundial da Saúde definiram os probióticos da seguinte forma: “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro”.
O interesse nos probióticos tem vindo a crescer, sendo prova disso o número crescente de estudos publicados anualmente. As espécies de probióticos mais conhecidas são: as espécies Lactobacillus spp. Bifidobacterium spp. e Saccharomyces.
Os mecanismos de ação dos probióticos são variados: competição por sítios de ligação ou exclusão competitiva, estímulo do sistema imunitário, efeito nutricional, produção de substâncias antibacterianas e enzimas.
O que são os prebióticos e que relação têm com os probióticos?
Os prebióticos são partes constituintes dos alimentos, que não são totalmente digeridas e, por isso, servem de alimento para os microrganismos benéficos do intestino. Essas bactérias desempenham funções cruciais no corpo, como proteger o aparelho digestivo da disseminação de fungos e bactérias nocivos, enviar informação para o sistema imunológico e ajudar a regular a inflamação. Consumir alimentos prebióticos é importante para a manutenção da microbiotica intestinal, para o sistema imunitário e para a saúde geral. Os prebióticos são hidratos de carbono não-digeríveis, que afetam positivamente a saúde por estimularem seletivamente a proliferação e/ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon intestinal.
Enquanto os probióticos são os microrganismos com efeitos positivos na saúde intestinal, os prebióticos são o alimento desses microrganismos. De forma a maximizar os efeitos benéficos na microbiota intestinal, antes chamada de flora, tanto uns como os outros devem estar presentes na alimentação diária.
Os ácidos gordos de cadeia curta são a principal fonte de nutrientes para as células que revestem o cólon intestinal. Estes promovem uma barreira intestinal que auxilia o impedimento da entrada de substâncias nocivas, vírus e bactérias, enquanto também reduz a inflamação e pode reduzir o risco de cancro.
Além de, tal como os probióticos, poderem ser encontrados em suplementos, os prebióticos estão presentes naturalmente em alimentos. Exemplos de prebióticos são os frutoligossacáridos, encontrados em alimentos de origem vegetal como cebola, alho, tomate, banana, cevada, aveia, trigo, mel e cerveja. Outro exemplo é a inulina, extraída da raiz da chicória, espargos, trigo e cebola.
A relação entre a prostatite e os probióticos
A análise do microbioma humano continua a revelar novas associações entre a interrupção da normal microbiota e o surgimento de patologias. Enquanto algumas destas doenças que têm sido amplamente estudadas estão bem definidas na sua etiologia e métodos de tratamento, como é o caso do cancro colorretal, por exemplo, outras têm proporcionado desafios muito mais significativos tanto no diagnóstico como no tratamento. Uma dessas doenças, a síndrome da dor pélvica crónica ou prostatite crónica, tem várias causas que são potenciadoras de infeção, inflamação, alterações do Sistema Nervoso Central (SNC), stress e sensibilização central – que por sua vez são simultaneamente fatores que podem desencadear alterações entre o microbioma humano e o organismo como um todo.
Não foi identificada nenhuma causa singular de prostatite, muito provavelmente por esta ser uma síndrome com causas multifatoriais. Esta heterogeneidade e ambiguidade são fontes de frustração significativa tanto para os doentes como para os profissionais de saúde. O tratamento com monoterapia através da utilização de antibióticos tem tido um sucesso limitado e com grande probabilidade de recidivas, o que se pensa ser devido à sua natureza multifatorial e devido aos efeitos secundários dos antibióticos nas bactérias benéficas ao organismo.
Novas investigações microbiológicas encontraram correlações entre a gravidade dos sintomas e o grau de disbiose nos microbiomas de urina e intestino (fezes) nestes doentes, em comparação com os grupos de controlos não afetados. Estas descobertas apresentam novos alvos potenciais de diagnóstico e terapêuticos em doentes com prostatite crónica. A utilização de probióticos, por exemplo, favorece uma normalidade do microbioma humano e, deste modo, uma abordagem mais eficaz no combate à prostatite crónica.
Habitualmente, os pacientes com prostatite crónica apresentam níveis de lactobacilos no líquido seminal mais baixos do que homens sem prostatite. Este facto pode dever-se à toma prolongada de antibióticos, que é muito frequente no tratamento tradicional da prostatite. Desta premissa construiu-se a hipótese de que os probióticos poderiam prevenir infeções recorrentes em homens. Assim, ao invés de ser apenas recomendada a toma de antibiótico, os indivíduos com prostatite deverão também tomar probióticos, prevenindo assim infeções recorrentes.
O benefício dos probióticos para o tratamento de bactérias causadoras de prostatite foi demonstrado em investigações clínicas em humanos. Um estudo dividiu mais de 212 homens com prostatite crónica e outras doenças do trato urinário, em dois grupos: um realizou tratamento apenas com antibiótico e outro com antibiótico e probiótico. No final do estudo, 28% do grupo que recebeu apenas antibiótico teve recorrência de infeções do trato urinário contra apenas 7,8% do grupo que recebeu antibiótico e probiótico. Assim, este estudo realçou o papel dos probióticos na potencialização do tratamento de infeções do trato urinário com antibióticos.
Noutra investigação, de 2017, 162 doentes com infeções crónicas, incluindo inflamações do trato urogenital, foram avaliados quanto à composição da microbiota intestinal, antes e depois do tratamento com probióticos. Após o tratamento, verificou-se uma redução do número de agentes patogénicos. Em todos os grupos de estudo após o uso de probióticos, o número de microrganismos (S. aureus, S. saprophyticus, S. epidermidis e C. albicans) aumentou, verificando-se uma tendência da restauração da microbiota normal, bem como uma redução do estado inflamatório.
Um recente estudo de 2021, com homens saudáveis com idades entre os 55 e os 65 anos e infeções recorrentes foram incluídos em dois grupos randomizados para receber probióticos ou placebos. O acompanhamento / tratamento foi feito durante 12 semanas, tomando cada homem um comprimido do probiótico ou placebo todos os dias. A investigação concluiu que houve uma redução dos episódios de prostatite naqueles indivíduos que tomaram o probiótico.
Em suma, os probióticos, para além da sua ação comprovada na saúde intestinal, desempenham um papel de prevenção e tratamento de infeções do trato urinário, incluindo as prostatites bacterianas.
Bibliografia:
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