O QUE SÃO
β-glucanos ou Beta-glucanos são um grupo de polissacarídeos isentos de amido e fermentáveis, que fazem parte do conjunto das fibras solúveis. Compõem a estrutura de paredes celulares de bactérias, leveduras, fungos (inclusive cogumelos) e encontram-se, também, na porção mais fibrosa de grãos de cereais como a aveia e a cevada.
Outras fibras solúveis incluem pectinas, psyllium, gomas de galactomanana, mucilagens e algumas hemiceluloses.
COMO ATUAM NO ORGANISMO
Os β-glucanos aumentam a duração do processo digestivo intestinal, devido ao facto de atrasarem o esvaziamento gástrico e a absorção de glicose/açúcar.
Ademais, principalmente os β-glucanos da aveia, conseguem atingir a taxa máxima de crescimento e proliferação celular de bactérias intestinais de cooperação. A simbiose entre as bactérias cooperadoras é essencial para uma absorção nutricional, defesa imunitária, entre outros.
Os principais locais onde acontece a maioria da fermentação das fibras destacadas são o cego e o cólon intestinal. Nesses locais, bactérias anaeróbicas fermentam estas fibras solúveis e como resultado são produzidos ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) que exercem um mecanismo protetor da homeostase glicosídica e insulínica.
BENEFÍCIOS DO SEU CONSUMO
Nas últimas duas décadas o interesse nos β-glucanos foi ampliado devido às suas propriedades funcionais e bioativas. Estas estão associadas principalmente à redução da resistência insulínica, dislipidémia e hipertensão. Donde que, têm provado possuir efeitos preventivos e de tratamento contra doenças associadas à síndrome metabólica. Esta é caracterizada por um conjunto de fatores de risco, essencialmente cardiovasculares, que têm por base a obesidade abdominal. Mais de um terço da população portuguesa adulta é afetada por esta síndrome. Os indivíduos portadores desta síndrome estão em risco de desenvolver doença cardiovascular (ataque cardíaco e AVC) e diabetes, mesmo quando os fatores de risco estão apenas ligeiramente elevados.
Em relação a outras fibras, são necessárias menores quantidades de β-glucanos para verificar redução dos níveis de glicose pós-prandial e da resposta à necessidade insulínica em indivíduos saudáveis e em pacientes diabéticos tipo 2.
Um dos mecanismos para explicar o efeito de redução da glicose e da insulina dos β-glucanos, envolve a sua capacidade de formar soluções viscosas. O esvaziamento gástrico retardado ocorre devido a esse aumento da viscosidade, o que melhora a digestão e consequentemente a absorção nutricional. A alta viscosidade do bolo alimentar diminui a difusão enzimática e estimula a formação de uma camada aquosa que reduz o transporte de glicose para os enterócitos (células intestinais de primeira linha).
As fibras solúveis dos β-glucanos estão também associadas ao aumento da excreção de ácidos biliares e ao aumento da atividade da enzima 7α-hidrolase, útil para ajudar e eliminação de colesterol em excesso.
Entre os polissacarídeos que atuam como imunoestimuladores, os β-glucanos foram considerados os mais eficazes contra doenças infeciosas e cancros. Estudos in vitro, em células animais e humanas, mostraram que os β-glucanos podem incrementar a capacidade de resposta das células imunitárias por estimular a imunidade humoral e celular. Um dos estudos verificou o desenvolvimento da atividade macrofágica e ativação de neutrófilos e células mononucleares com função antimicrobiana.
Não foram ainda relatados quaisquer efeitos adversos ao humano pelo consumo de uma alimentação rica em β-glucanos provenientes dos flocos e farelo de aveia e cevada.
APLICAÇÃO
O consumo diário de pelo menos 5 g de fibra solúvel de β-glucanos (aproximadamente 1 colher de sopa cheia), reduz a presença de 54% dos metabolitos da síndrome metabólica em pacientes com diabetes tipo 2.
Numa meta-análise, as fibras solúveis de pectina, psyllium e aveia provaram ser eficazes na redução de níveis de colesterol total e LDL.
Apenas 15-20% dos β-glucanos da cevada são solúveis em água, enquanto que quase 70% dos β-glucanos da aveia são solúveis em água. Um menor peso molecular resulta em menor solubilidade do β-glucano, e menor viscosidade. Menor viscosidade tem como consequência, menor efeito redutor de colesterol. Possuindo a aveia maior peso molecular do que a cevada, explica-se o porquê dos β-glucanos da aveia apresentarem melhores resultados que os da cevada, na avaliação dos parâmetros lipídicos.
A capacidade absortiva dos β-glucanos da aveia e o aumento da sua viscosidade, fica comprometida com a exposição a temperaturas altas. Daí, é sugerido apenas hidratar ou cozer a aveia a temperaturas mínimas antes de ingerir.
Apesar de possuírem níveis mais reduzidos, os β-glucanos presentes em talos de aipo, cenouras, rabanetes e cogumelos shitake e maitake também apresentam efeitos benéficos para a saúde.
Referências Consultadas
- El Khoury D, Cuda C, Luhovyy BL, Anderson GH. Beta glucan: health benefits in obesity and metabolic syndrome. J Nutr Metab. 2012;2012:851362. doi:10.1155/2012/851362
- Oliveira LC et al. Effect of drying temperature on quality of β-glucan in white oat grains. Ciênc. Tecnol. Aliment. 2012, vol.32, n.4. doi:10.1590/S0101-20612012005000105.